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Você sabe o que é Congado?

 

 

 

 

 

                                            Introdução:

 

Congado é uma das manifestações de cultura e de fé mais populares no Brasil.

Antônio Pires, um jesuíta importante da época, foi um dos primeiros a descrever, em 1552, que os negros africanos de Pernambuco se reuniam, com frequência, em congregações e organizavam procissões religiosas, das quais os brancos não participavam.

O lendário escravo, Francisco da Natividade, conhecido como Chico-Rei, foi um dos responsáveis pela fundação do Reinado de Nossa Senhora do Rosário, em Ouro Preto, MG.

Chico-Rei também foi responsável pela construção da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, santa católica protetora dos negros.

Com uma igreja própria, os negros escravos podiam, então, orar e organizar suas procissões. Usavam seus instrumentos musicais e podiam então dançar e cantar.

Nesta manifestação, que acontece desde aqueles tempos até os dias de hoje, os componentes do congado usam trajes especiais para representar seus ancestrais.

Um rei e uma rainha, um príncipe e uma princesa, embaixadores e outros representantes negros estão sempre presentes nesta manifestação.

Com características e datas próprias de cada região, o Congado é festejado em quase todos os estados brasileiros, mobilizando multidões de congadeiros e admiradores. Mas é em São Paulo e, principalmente, em Minas Gerais que encontramos o maior número de grupos ou guardas de Congado, o que tem garantido a continuidade desta tradição cultural até os dias de hoje.

A musicalidade do Congado: 

A música e a cultura Bantu ainda hoje permanecem um mistério para nossa gente, quer seja pelas inúmeras nações que aqui aportaram, com suas variadíssimas manifestações de religiosidade, quer seja pela presença portuguesa que já era forte em terras de Angola/Congo desde o século XVI. Desde que os portugueses chegaram ao Golfo da Guiné, o cristianismo entrou lá e pegou.

Chegando aqui, os Lunda, Kassange, Kongos, Angolas, Moçambique e tantos outros, ao se relacionarem com seus aparentados sudaneses fizeram uma nova conexão cultural, que resultou nas várias formas de culto e musicalidade que vemos hoje no país. O Congado resulta numa sonoridade suave e tão brasileira que dá gosto de ouvir. Os tambores são executados em células simples, mas com um peso hipnótico, sendo tocados por horas a fio, uma lembrança das festas intermináveis dos povos Lunhaneka e Kikongo.

O Congado:

 O Congado (ou congada) é uma manifestação cultural e religiosa afro-brasileira.

 

 

 

 

 

Constitui-se em um bailado dramático com canto e música que recria a coroação de um rei do Congo. Trata basicamente de três temas em seu enredo: A vida de São Benedito; o encontro da imagem de Nossa Senhora do Rosário submergida nas águas; e a representação da luta de Carlos Magno contra as invasões mouras. A congada é muito famosa em Brás Pires, Minas Gerais, onde os congos se encontram na Igreja do Rosário.

Segui abaixo a explicação do Historiador Jeremias Brasileiro (Pesquisador e Comandante geral da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito de Uberlândia MG):

 O Congado vem do termo congo, que significa congar, dançar. É uma memória que vem com os escravizados do Antigo Reino do Congo, na África Central, com a essência de festejar algum momento. Naquela época era comum eles celebrarem através da dança o nascimento de um príncipe, uma boa colheita e visitas de pessoas de outras províncias por exemplo.

 A identidade do Congado, antes de tudo, é brasileira. A partir da África, são 500 anos de história desde a viagem no Atlântico (Calunga) a escravidão, as lutas, os reinados e tudo, até hoje.

 Falamos de uma identidade dinâmica e brasileira. O Congado é fruto de muita criatividade desde o príncipio. Esta criatividade é de beleza e fé, mas principalmente de necessidade e sobrevivência. A identidade faz parte do tripé: História, identidade e cultura.

 As raízes do Congado estão na África, principalmente nos povos bantus. Toda identidade tem uma história. Até mesmo a identidade de uma pessoa tem tudo haver com a história dela desde criança; tudo que ela aprendeu dos pais, da escola, da vida. Uma identidade cultural surge na história de comunidade ou povos. No Congado, os antepassados, as almas dos escravos, o fundador da irmandade, reis, rainhas, capitães falecidos são lembrados e reverenciados. A cultura congadeira é fiel aos ancestrais.

Nossa Senhora do Rosário: 

Como Nossa Senhora do Rosário entrou na devoção dos negros, em Portugal, na África e no Brasil? Uma lenda contada em todas as irmandades coloca a Senhora do Rosário como sendo a origem do Congado (assim, há que se verificar as origens de cultos no Brasil, tais como o Omolokô, que têm relação profunda com as festas do Congado Mineiro).

 A irmandade do rosário (dos brancos) fundada na Alemanha em 1409 chegou a Lisboa em 1478. A mais antiga menção a uma “Confraria de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos” encontramos em 14 de julho de 1496, portanto quatro anos antes da chegada dos portugueses ao Brasil. Esta informação consta num alvará dado à dita confraria, situada no mosteiro de S. Domingos de Lisboa, "para poderem dar círios e recolher as esmolas nas caravelas que vão à Mina e aos rios da Guiné". Para quem gosta de comprovações acadêmicas, encontra-se este importante documento no Arquivo Nacional da Torre do Tombo em Lisboa: Confirmações Gerais, L.2 fls.107v.-108.

 Em 1526, já havia na ilha de São Tomé a irmandade dos “Homens Pretos”. Outras irmandades do Rosário existem no Congo, na Angola e em Moçambique, desde o Séc. XVII.

 Antes de 1532, já existia no Brasil uma irmandade para os escravos da Guiné, segundo Frei Odulfo Van der Vat.ofm e outros historiadores. Em 1610, o rei do Congo entrou na irmandade do rosário fundada por Fr. Lourenço O.P., em Mbanza, capital do Reino do Congo. Entendemos que as irmandades do rosário surgidas no Brasil, não vieram só da Europa, mas também da África. Provavelmente, houve escravos africanos que já vieram para cá irmãos do rosário.

 

                                                   Origem

                    Povos Bantus e o Cristianismo na África:

  Na África, os Bantus (Mais de 500 povos) formam um grupo linguístico. O termo “Bantu” não se remete à apenas uma cultura.

 Muito tempo antes dos portugueses chegarem à África, já haviam os povos bantus. Atravessaram as densas florestas do centro da África, e isso demorou séculos. Nessa façanha, misturaram-se com outros povos e venceram outros. Forjaram-se reinados e uma civilização hierarquizada; não uma única cultura e sim muitas. Explicamos a diversidade cultural dos bantus, pela importância dada aos antepassados. Cada grupo étnico bantu tem seus antepassados como ponto de união. É deles que apreenderam a sabedoria dos provérbios; dos antigos receberam as leis para fazer justiça no caso de uma briga de terras ou entre famílias; é deles que aprenderam a religião, a cura das doenças e os instrumentos musicais e todas as outras coisas da vida.

 Assim, cada grupo, cada clã, cada povo de bantu tem sua cultura própria. Portanto, existe a civilização bantu na África, o grupo linguístico bantu e muitas culturas bantu; grande parte das tradições afro-brasileiras designam desses povos, como pode-se observar na migração descrita na imagem:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Desde que os portugueses chegaram ao Golfo da Guiné, o cristianismo entrou lá e se instalou. Em 1533, foi criada a diocese de Cabo Verde e Guiné. Outra diocese fundada no reino do Congo já celebrou os seus 400 anos de existência, assim, muitos escravos bantos do Brasil já eram cristãos na África. Assim, muitos povos Bantu já chegaram ao Brasil catequizados, ou trouxeram suas manifestações religiosas e culturais já sincretizadas com os sistemas católicos e/ou mesmo muçulmanos e judaicos, expressos fortemente no Congado Mineiro, essa manifestação que já existia em Portugal - celebrada pelos negros - antes mesmo da descoberta do Brasil.

 No Golfo da Guiné, a recepção do cristianismo não foi passiva. No Reino do Congo, surgiram algumas manifestações afro-católicas. A jovem Beatrice Kimpa Vita, por exemplo, liderava um movimento de Santo Antônio, que africanizava o cristianismo. Ela “encarnava Santo Antônio” e dizia que Jesus e muitos santos nasceram no Congo. Beatrice foi condenada pela inquisição e morreu na fogueira, em 1706. Curiosamente, no Brasil, encontramos Luiza Pinta, escrava da Angola e devota de Santo Antônio em Sabará MG, que foi torturada pela inquisição, em Lisboa no ano de 1742. Quem sabe, a Luiza tenha pertencido ao movimento de Beatrice? E quem sabe, o sincretismo de Santo Antônio com as divindades guardiãs (os Njilas, Baras e Exus), não tenha se iniciado já na África e não no Brasil, assim como outras divindades Jeje e Yorubás?

 

 

                                            A lenda do Chico Rei

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A origem do congado refere-se diretamente à lenda do “Chico-Rei”:

Não há documentos que comprovem a existência desse 'rei de congo', são estórias orais, contadas de geração em geração.

Chico Rei é um personagem lendário da tradição oral de Minas Gerais, Brasil. Segundo essa tradição, Chico era o rei de uma tribo no reino do Congo, trazido como escravo para o Brasil. Conseguiu comprar sua alforria e de outros conterrâneos com seu trabalho e tornou-se “rei” em Ouro Preto, MG.

 Nascido no Reino do Congo, chamava-se originalmente Galanga. Era monarca guerreiro e sumo sacerdote do Deus Zambi-Apungo e foi capturado com toda a sua corte por comerciantes portugueses traficantes de escravos. Chegou ao Brasil em 1740, no navio negreiro “Madalena”, mas, entre os membros da família, somente ele e seu filho sobreviveram à viagem. A Rainha Djalô e a filha, a princesa Itulo, foram jogadas no Oceano pelos marujos do navio negreiro “Madalena” para aplacar a ira dos deuses tempestade, que quase afundou.

 Todo o lote de escravos foi comprado pelo Major Augusto, proprietário da Mina da Encardideira, e foi levado para Vila Rica como escravo. Trabalhando como escravo, conseguiu comprar sua liberdade e a de seu filho, adquirindo, também,a mina na qual trabalhava. Aos poucos, foi comprando a alforria de seus compatriotas. Os escravos libertos, então, consideravam-no “rei”. O 'Rei preto' se casou com uma nova rainha e seu prestígio foi crescendo em Ouro Preto, antiga Vila Rica.

 Este grupo associou-se em uma irmandade em honra de Santa Efigênia, que teria sido a primeira irmandade de negros livres de Vila Rica e construíram a Igreja do Alto da Santa Cruz por ocasião da festa dos Reis Magos, em Janeiro, e ergueram a Igreja de Santa Efigênia/Nossa Senhora do Rosário em Outubro. Nessa última, haviam grandes solenidades generalizadas com o nome de 'Reisados'. Nessas festas, Chico-rei aparece bem trajado e acompanhado de sua rainha, eles são acompanhados por músicos e dançarinos ao som de caxambus, pandeiro marimbas, canzás e intensas ladainhas. O congado que hoje é celebrado em várias regiões do Brasil é um movimento cultural que envolve danças, cantos, levantamentos de mastros, coroações e cavalgadas, expressos na festa do Rosário plenamente no mês de Outubro. Na festa se utilizam instrumentos musicais como cuíca, caixa, pandeiro e reco-reco, os congadeiros vão atrás da cavalgada que segue com uma bandeira de Nossa Senhora do Rosário.

 Chico Rei virou monarca em Ouro Preto, antiga Vila Rica em Minas gerais, no século XVIII, com a anuência do governador-geral Gomes Freire de Andrada, o Conde de Bobadela.

 No dia de Nossa Senhora do Rosário, ocorriam as solenidades da irmandade, denominadas Reinado de Nossa Senhora do Rosário. Durante estas solenidades, Chico, coroado como rei, aparece com a rainha e a corte, em ricas indumentárias. Este cortejo antecedia a missa (Tradição que permanece até hoje).

 Tal conto popular expressa claramente o surgimento do Congado como uma forma de manifestação escravocrata que desejava recuperar suas origens africanas, completamente devastada pelo colonialismo europeu. Pode-se identificar, portanto, o ato de celebração ao rei (Chico) tanto como uma forma de solenidade à Coroa Portuguesa quanto à ambição de recuperar seu território e identidade cultural e histórica.

 

 

 

 

                                                Características:

 

 

                                            TERNOS DE CONGO

Geralmente, os grupos em que se dividem os congadeiros de uma região são denominados como “Ternos de Congo”. Cada um deles representa um momento da história de Nossa Senhora do Rosário ou da cultura afro e, as pessoas que os compõem, se identificam com um tipo de canto, percussões, vestuários e linhagens de famílias.

  • Os Moçambiques, por exemplo, representam o povo que ficou à beira do mar chamando a Senhora do Rosário, entoando cantos, sem dar as costas. Por isso, quando os Ternos de Moçambique chegam a algum lugar eles saem de costas, justamente para prevalecer esse conto. Os Moçambiques são os congadeiros mais tradicionais e podem entoar apenas cantos de manifestações e fé. São caracterizados por latinhas amarradas em cordas nos pés.

  • Os Ternos de Catupés surgiram da influência indígena e utilizam de cantorias irônicas e com críticas sociais.

  • Os Marujos ou Marinheiros têm origem moura e fazem uso de caixas e chocalhos simbolizando, através da cantoria, a submissão final dos mouros ao poder dos cristãos.

  • Já os Penachos fazem cantorias de lamentações e as coreografias são de passos marcados e cadenciados, representando os índios africanos inseridos nas congadas.

  • O Terno de Vilão representa, na oralidade, os jovens escravos que assaltavam fazendas e engenhos, por isso suas danças fazem referência a esses conflitos.

 

 Estas denominações são apenas singularidades que os ternos representam, pois é possível haver mais de um grupo da mesma estrutura, porém cada um com sua própria identidade.

 Para comandar a todos, os ternos tem seus capitães e estes podem ser identificados por meio de um bastão, que é utilizado apenas por capitães ou comandantes de irmandades.

 

                                Cores, Elementos e Significados:

 

 O desfile da Festa do Congado é marcado por costumes e atividades próprias, a principal delas é o levantamento de mastro. Essa tradição faz referência à época em que os escravos se seguravam aos mastros de navios para se salvarem, tal qual o mastro quando é colocado no chão, ato que também mitifica estes tempos.

 Outra afiguração do Congado é a dança de trança de fitas como lembrança de construção de cabanas em algumas regiões de Minas Gerais; para outros, representa a travessia marítima de escravos e, para outras pessoas, pode representar também a unidade familiar, antes e após a escravidão.

As bandeiras, outro elemento bastante importante no Congado tem determinados tipos e cores, sejam elas por ligações por santos devocionais, por empatia e beleza ou por estarem associadas à religiosidade afro-brasileira. Algumas dessas cores são:

  • Rosa: representa o sensível e a humildade.

  • Roxo: uma homenagem a São Benedito, resultante de coragem contra adversidades.

  • Azul-piscina: simboliza a alegria dos marinheiros ao resgatarem Santa Efigênia no fundo do mar.

  • Verde-piscina: traduz a felicidade dos marinheiros ao buscar Santa Efigênia no mar de águas límpidas.

  • Amarelo: espanta o mau olhado, traz riqueza e bem estar.

  • Verde: reflete a esperança de que as crianças, os adolescentes e os jovens adultos possam continuar com os rituais do Congado.

 

 

                                                  Composição:

 

  • Capitão: figura de grande importância para o Terno. É o responsável por organizar o grupo, confeccionar os instrumentos, agendar e organizar os ensaios, além de ser responsável por buscar patrocínios para as necessidades do Terno.

  • Bandeirinhas: meninas que abrem e apresentam o Terno de Congo, cantando, dançando e segurando as bandeiras dos santos homenageados pelo Terno. Até pouco tempo, era a única forma das mulheres participarem diretamente da dança que envolve os Ternos.

  • Caixeiros ou Guias: são os dançarinos mais antigos e marcam o ritmo do Terno; ensinam aos jovens também o ritmo. Carregam as caixas que fazem o som característico da Congada. Curiosidade: estas caixas chegam a pesar 50kg.

  • Instrumentistas: são os que tocam o violão, a viola, a sanfona e os pandeiros.

  • Soldados: são os dançarinos mais jovens e compõem as filas do Terno. Dependendo do Terno, podem: carregar grandes caixas, pequenos pandeiros ou bastões coreografando com estes instrumentos.

  • Conguinhos: são crianças, geralmente filhos dos dançarinos de Congo, com idades inferiores a 5 anos que acompanham, junto com suas mães, s últimas fileiras dos Ternos.

 

                                               

                                                     Instrumentos:

                       

                           Os instrumentos musicais utilizados são:

  • A cuíca;

  • A caixa;

  • O pandeiro;

  • O reco-reco;

  • O cavaquinho;

  • O tarol;

  • E a sanfona ou acordeom.

 

Fontes de pesquisa:

http://pt.slideshare.net/TheMrGabriel/congado

http://canalaxeancestral.blogspot.com.br/p/inicio.html

http://www.festejo.art.br/arquivos/Frei%20Chico%20-%20Congado,%20origens%20e%20identidade.pdf

 

http://www.oenigmadorosario.com.br

Vídeo:

https://www.youtube.com/watch?v=puLn4vjzFy

 

 

Esta e outras matérias você encontra no blog do meu amigo ESPETO SENZALA,  que cedeu esta pesquisa para meu blog, forte abraço meu mano Espeto!!!

                                    http://espetosenzala.blogspot.com.br/

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